2009


Primeiro post de 2009. Certamente você deve esperar que eu faça aqui uma lista das minhas esperanças para este novo ano, os erros que não cometerei novamente, promessas de postar mais, ler mais, participar mais da vida dos meus amigos e essas coisas que movem o interior de todas as pessoas após assistir os fogos em Copacabana e levar o famoso “tapa na cara” da vida que faz questão de dizer: “Rapá, mais um ano se passou e tu fez o quê mesmo?”. Mas não é isso que irei fazer. A la Do Contra, o personagem do gibi da Turma da Mônica, farei um discurso analítico do nascimento de uma nova vida que a maioria das pessoas assumem no dia 1º de janeiro.

Após a contagem regressiva assistida na televisão no sofá ao lado do meu namorado, em um festa nada agitada na casa da minha tia, vários questionamentos dominaram a minha mente e me impediam de escutar qualquer coisa. “Meu amor!”, sussurrou Lucas. Eu imediatamente lhe abracei muito forte e declarei com ousadia os meus desejos para a vida dele. Sussurrando para que ninguém ouvisse fui profundo nos desejos que eu sabia que ele queria conquistar, e desejei com uma amor intransponível que todos eles se concretizassem. O mais incrível é que rapidamente ele se pôs a desejar que os meus sonhos mais íntimos se tornassem realidade.

Saindo do love time, fui atrás de meus avós na cozinha e deparei com algumas lágrimas no rosto do meu vô. (Todos haviam saído para ver os fogos na Esplanada). Parei na escada e suspirei como quem não ia conseguir dizer uma palavra. Mas apesar de todas as aflições que eu tinha passado com ele esse ano, o abracei muito forte e disse: “Vô, feliz Ano Novo. Muita saúde vô, muita saúde!”. Frágil na cadeira, ele não olhou nos meus olhos mas agradeceu. Minha vó, estava encostada no fogão, com uma magreza dolorosa, e só consegui dar-lhe um cheiro e dizer que a amava e que eu desejava que ela pudesse ter muita saúde. “É mesmo minha filha, eu preciso de muita saúde. É de saúde que eu preciso”, disse ela tristonha.

Quem me conhece sabe que em 2008 fui coberta de uma máscara de amargura, mas meus caros, ela só existiu por descontentamento diante de tanta injustiça na minha vida. Mas quando eu senti o tempo escorrer pelos dedos durante a contagem regressiva, eu lembrei de como eu era no colegial e lembrei da minha covinha que todos elogiavam e que faziam pessoas sorrirem. E infelizmente conclui que “A Era do Vazio” havia me invadido por osmose com a vivência diária com caricaturas da cultura brasiliense. A menina “rebelde” que jurou nunca mudar a sua personalidade, havia se tornado aquilo que pediram incognitamente para ela se tornar. Diferente dos outros anos, eu não estava feliz, nem animada, muito menos acompanhada da minha boa taça de vinho. Eu era uma outra Ana Paula, que não fazia jus ao significado do seu nome.

Às 2h chegou o resto da família, e eu só consegui ouvir os desejos enlatados de final de ano: Feliz Ano Novo! Tudo de bom! Que Deus nos dê paz, saúde, harmonia e muito dinheiro. Meus caros, vocês escutam esses desejos, afinal eles são enlatados e reproduzidos em massa e o seu conteúdo é puramente ritual, não engloba nenhum desejo.

Após 31 de dezembro de qualquer ano, as pessoas passam pelo Jubileu e acreditam que nenhuma de suas atitudes serão lembradas ou restituídas. Foi-se. E não há mais marcas. E em uma atitude antropológica, começam o ano desejando mais para as suas próprias vidas e planejam amores que de amor não tem nada. Não condeno desejar mais para si, mas sim o desejar-se além do que é necessário para viver em comunidade.

O jornal Folha de São Paulo do dia 2 de janeiro , estampou a guerra em Gaza, assim como relatou a comemoração dos 50 anos da Revolução Cubana, a morte da única deputada branca oposta ao regime segregacionista do apartheid, a sul-africana Helen Suzman, o aumento de gás carbônico prejudicando o crescimento de coral na Barreira de Coral da Austrália, e Raú Castro cogitando a possibilidade de conversar os EUA. E é difícil que em uma virada de ano, se lembre que o mundo gira e há vários que integram um mundo lotado de comunidade. Diante desse cenário são poucos que abraçam e desejam que os desejos do próximo venham antes do próprio.

A nova vida que nasce no primeiro minuto de 1º de janeiro não deixa para traz os estragos no ecossistema, nem ressuscitam os mortos de Gaza, Iraque, Zimbábue. A nova vida é uma nova chance para sermos sinceros, honestos, sensíveis. Principalmente, a nova vida traz vários nascimentos, e eles acarretam em mais um indivíduo no mundo, mais um ser pensante em uma comunidade. Uma comunidade que existe e que você sinceramente faz parte. Sejamos congregantes da comunidade.

Em 2009 eu trabalho para uma comunidade! Uma comunidade onde o amor atitude, não sentimento é a razão de viver e respirar.



Ana Paula Bessa
Comunistária (entendeu o trocadilho! hum?!)

2 comentários:

Rafael Lang disse...

EEEEEEEita que a menina ficou do jeito que é bom....
com a forma de antigamente....
com os dedinhos afiados.... assim que eu gosto.... como diz vc... antes da era do vazio... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.....

saudades dessa Ana Paula, que não é pizza mas é boa à Bessa quando escreve... (ah eu tinha que fazer uma piadinha né aninha...) ferrenha no que deseja, e contra as injustiças da vida....

Só te desejo algumas coisinhas pra 2009, além dos enlatados....

Saúde, garra, e que sejas mais ferrenha em td....

Beeeeeeijos e FELIZ ANO NOVO PRA VC.....

hehehehehehehehehehehe...

Gustavo Frasão disse...

É, Paulinha. Gostei do que você falou e eu nunca parei para pensar dessa forma. Interessante isso. Em épocas de aniversário, natal, ano novo ou outras datas comemorativas e que exigem um pouco mais de presença familiar, as pessoas são tomadas por um sentimento de união, paz e recomeço. O engraçado é que, quase sempre, não recomeçam e continuam cometendo os mesmos erros. Os desejos "enlatados", puxa, isso foi demais. Realmente são enlatados, viraram clichês, costumes, hábitos, cultura. Uma cultura, infelizmente, que não é das melhores.

Passo a olhar de outra forma isso a partir desse momento. E vou, a partir de agora, começar a desejar com vontade e de coração, com outros dizeres e sem enlatados. Aliás, fiz isso sem perceber com você no começo do ano de 2009. Desejei muita saúde, muita sabedoria e tudo de bom, mas de uma forma intensa e voraz.

É isso, Paulinha. Parabéns pelo texto. Parabéns pelo blog.

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