Diploma sim! Pelo amor de Deus!

Olá caros amigos! Deculpem a demora. Mas é que o meu processo cirativo estava meio que no ócio e eu  extremamente sem coragem de escrever algo. Bem, passado o trauma eis-me aqui para escrever algumas linhas sobre a minha profissão.

Como todos estão cansados de saber e ouvir, se eu quiser abandonar a minha faculdade para exercer a minha profissão eu posso fazer isso agora que, mesmo assim, serei uma profissional. Isso pouco me espanta. Quem convive comigo sabe muito bem que eu digo e repito que já sou uma profissional graças as minhas experiências em redações e não devido a grade do meu curso na minha universidade P-A-R-T-I-C-U-L-A-R. 

Embora eu seja incisiva neste meu argumento não apoiei a decisão dos excelentíssimos advogados e doutores do STF (Supremo Tribunal Federal), muito menos fiquei empolgada com a pesquisa que o portal Comunique-se realizou, onde foi possível saber que a população também não apoiou tal decisão. Mas a questão é bem simples e cultural, amigos. Certamente vocês já conhecem aquela velha piada sobre o advogado e o jornalista. Bem, se não sabem aqui vai ela: Enquanto o advogado pensa que é Deus, o jornalista tem certeza. Isso é fato. Que jornalista nunca reclamou dos discursos homéricos de um advogado? Ou que advogado nunca reclamou da objetivismo sarcástico de um jornalista? Então não se poderia esperar outra opinião dos excelentíssimos do STF. 

Mas vamos ao que interessa, porque não quero ser chata que nem um advogado.

Li muitos textos e discuti com vários colegas antes de escrever este post e, infelizmente, tenho que dizer que eles não mudaram a minha opinião, apenas serviram de fomento para ampliar a minha visão. Vou comentar o criador do "new jornalism" que esteve aqui no Brasil há algumas semanas atrás: Gay Talese. Resumidamente Gay disse: "Não acho que jornalista precisa de diploma. O principal é a curiosidade e a habilidade de perguntar a estranhos e conseguir que eles respondam a um estranho". Eu concordo plenamente com a opinião do meu ícone do Jornalismo, porém no Brasil os tempos são outros, todos nós sabemos.

É óbvio que temos ótimos jornalistas que nem precisam de diploma para comprovar isso.Para mim o Kotscho é a personificação disso. Porém não se fazem jornalistas como antigamente. Talvez as grandes federais como a USP-ECA, Unesp, UFRJ e UNB, ainda consigam colocar no mercado um jornalista capaz de escrever um lead descente e que independente do teor da matéria (seja de comportamento, política, cultura ou economia) consegue se desvencilhar dos artigos exagerados e também da enrolação pouco literária. Mas as universidades particulares colocam mais alunos formados do que as federais.Para a minha tristesa. 

Carlos Castilhos, um jornalista que tem um currículo maior do que uma monografia,  disse em um recente artigo que escreveu para o Observatório da Imprensa: "Escolas não são capazes de formar o profissional pronto para ingressar no mercado de trabalho, que passa por mudanças radicais na área de comunicação e do processamento de informação. As escolas tem grades curriculares desatualizadas, que ainda nao aderiram às novas tecnologias. O formando entra no mercado dominado pela internet, dominando ferramentas que ele aprendeu fora da escola". Infelizmente, essa é a realidade. E graças a Deus eu tive um mestre que me alertou para isso. Meu professor de rádio e atual professor de Jornal Laboratório, Nelson Penteado, nos informou lá no quarto semestre que as Universidades não estão acompanhando o avanço da tecnologia e por isso estão formando profissionais desatualizados. Eu posso dizer pra vocês com todas as letras que tudo o que eu aprendi para dominar a informação via web foi na marra, sofrendo muito com a minha professora de webjornalismo, Raquel Sacheto, e levando muita bronca dos meus chefes. 

Mas você deve estar se perguntando: Se as escolas não formam um profissional a nível do mercado atual, por que exigir o diploma? Bom pelo simples fato de que ela é totalmente competente para ensinar ao jornalista a ética e a responsabilidade profissional. Capaz de passar valores que, com toda a certeza do mundo, não se aprende na prática da profissão. Se hoje todo mundo reclama do jornalismo marrom e sensacionalista, imaginem se todos puderem fazer um estágio em um jornal de quinta da cidade e depois conseguir o certificado de jornalista. 

Acreditem ou não, as Universidades expoem o estudante a um nível de ética intelectual, capaz de ajudá-lo a dicernir o seu trabalho ou o viés que sua profissão terá. E as Universidades poderão ser muito mais competentes se houver uma discussão boa a respeito de seu futuro e de maiores investimentos que devem ser feito não só na educação de base - como insiste em salientar o senador Cristovam Buarque - mas também no ensino superior. Sobre isso Castilho é incisivo: "Sou contra esse bate-papo estéril em torno de um diploma, que mais que um documento cartorial tem que ser um símbolo da certificação de qualidade validado pelas demandas sociais contemporânea.(...) Não adianta discutir a obrigatoriedade ou não, senão discutir primeiro a qualificação do jornalista, a capacidade das escolas produziresm profissional que a nova realidade informativa está exigindo. (...) A decisão que o STF tomou é tão pouco consistente quanto o diploma que eles desqualificaram". (Como diz um amigo meu: "Tá, meu bem!") ;)

Tem também o argumento do talento em que todos fazem questão de tocar. Sempre acreditei que o talento muda o curso de qualquer profissional. Uma coisa é ser um jornalista formado, outra coisa é ser um jornalista que arrasa, que é DUCA, por conta do seu talento. Eu admito que ainda não consegui o traquejo da coisa, mas digo que conheço muitos colegas que conseguiram e hoje arrasam e ainda nem se formaram. Certamente não será o diploma que fará dele um melhor ou pior jornalista, mas nesse mundinho de Brasília onde a bajulação e o jabá é levado mais em conta do que o talento, o traquejo pode não significar muita coisa. Mas vamos nos ater ao caso do diploma neh?!

Alberto Dines disse em um artigo para o Observatório que a decisão do Supremo "não é necessariamente a mais correta nem a mais eficaz", mas ele também não disse qual seria a solução. Como é típico dos textos do Dines, ele pegou a frase em que o ministro Gilmar Mendes disse que a obrigatoriedade do diploma "fere a isonomia e a liberdade de expressão garantida plea Consituição" e levantou dados relevantes. No mesmo dia em que a decisão foi tomada os três jornalões (Folha, Estadão e O Globo) estamparam 29 artigos regulares e assinados, sendo que desse total 18 eram de autoria de jornalistas formados e 11 de não formados. A porcentagem é de 60% contra 40%, que segundo Dines revela que a obrigatoriedade não discrimina colaboradores de outras profissões. Pensando bem, caros, é isso menos. Quantos artigos lemos que são de profissionais de otura área que se fazem ser jornalistas?!Bom até o Lula agora tem uma coluna diária não é?!?! hehehehe. (Desculpem meus amigos PTistas mas eu tinha que fazer essa).

Redação de jornal não é que nem coração de mãe sabe, mas com certeza sempre cabe mais um profissional especializado.Infelizmente a nossa profissão exige que saibamos de tudo um pouco, e assim acabamos não sabendo de nada de forma completa. Em um dia somos pautados para conseguir uma entrevista com José Sarney e no outro temos que ao Capital Fashion Week. É bizarro mas é isso mesmo. Já aconteceu de me pautarem para ir cobrir uma manifestação do MST em que nem o meu editor sabia sobre o que era, e quando eu cheguei lá fui vaiada por eles porque perguntei: "O que vocês estão protestando?". Então é sempre bom ter alguem ligado no assunto, pra poder falar melhor, opinar melhor sobre algo que sabemos apenas na hora em que cobrimos. 

Outro ícone que li foi Muniz Sodré que, para mim, foi o melhor no assunto do diploma. No artigo ele escreve: "Como cenceber hoje o funcionamento dessa instituição 'quase-pública', geradora da inofrmação necessária ao cidadão para o pleno funcionamento da democracia, sem uma formação universitária, especializada, de jornalistas? Informação não é mero produto, nem serviço; é um próprio solo da sociedade em que vivemos, é o campo onde jogam os cidadãos. Se a garantia dessa gormação adequada se espelha hoje no diploma, VIVA O DIPLOMA!". 

Caros amigos, digo com sinceridade que já tem muito profissional vagabundo com diploma. Não desmereço quem consegue ser um profissional de qualidade sem diploma, muito pelo contrário venero aqueles que mostram trabalho. Mas eu acredito que as Universidades podem sim formar profissionais melhores,afinal, esse é o trabalho delas. Espero que essa notícia toda possa fazer com que os mestre e reitores pensem nas novas tecnologias e tendências e produzam um profissional sagaz e acima do nível de mercado. Somos uma profissão importante para a sociedade, embora por vezes somos silenciados pelos nossos editores ou publicitários. Somos incumbidos de levar a voz do povo mais perto dos governantes, e não acho que essa seja uma profissão igual a de um cozinheiro. O cozinheiro não carrega a responsabilidade de mostrar aos governantes a realidade cruel dos analfabetos, miseráveis, sem tetos e sem educação. 

Eu sou jornalista não porque vou adquirir um diploma, mas porque quero servir o meu povo, independente do quanto que eu ganhe para isso. Mas só consegui esse pensamento porque obtive nos meus anos de estudos ensinamentos de Mauro Wolf, Claudio Abramo, Gay Talese, Alberto Diniz, Muniz Sodré, Rousseau, Foucault, Kant, Ricardo Kotscho, etc. E estudá-los a fundo só foi possível nas cátedras universitárias. 

Ana Paula Bessa
Jornalista

2 comentários:

Keroley Monteiro disse...

Como sempre, a Aninha arrasa em suas colocações. Parabéns !!!
Estamos em um momento de extremo estresse devido as balelas e argumentos que levaram a decisão, e que acabaram convencendo alguns desinformados (aff, sem comentários), da não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalismo. Mas, como poderemos aceitar isso? Como poderemos aceitar que o quê fazemos, ou futuramente farei, seja uma mera exposição de opinião que não merece reconhecimento no mercado como uma profissão importante, que é formadora de opinião. Sim, pelo menos deveria ser.
Se hoje, alguns textos não transmitem confiança, pois foram feitos por “profissionais” que deveriam ter ética e, devido a interesses comerciais e econômicos não cumprem com o seu papel de imparcialidade, imaginem o quê um indivíduo que não têm a base que a universidade fornece sobre ética e responsabilidade social, fará? Resguardando, claro, os grandes nomes que não tiveram a formação acadêmica, na área, e ainda conseguem provar que ainda existem profissionais decentes no mercado.
Até onde o jogo de interesses, que envolve a informação e brinca com a sociedade, nos levará? Deixo claramente essas questões para que vocês possam refletir. Afinal de contas, a minha amiga, que transpira competência, já falou tudo neste post.
Beijos gatinha! Continue assim, atrevida!

Juliana Medeiros disse...

Ana, seu texto é maravilhoso mas, por experiência própria, sabemos (as duas) que quase não há alunos de jornalismo a fim de se "aprofundarem na leitura" de mestres como Muniz Sodré, Rousseau, Claudio Abramo, Kotscho, Foucalt!... Cara, antes fosse! Eles sequer querem ler!! Então, sei lá... só concordo que devemos aprofundar a discussão do papel do jornalista que anda meio perdida diante dessa ópera bufa que vem sendo a cobetura no mundo capitalista.. =/ bjao!

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